Entenda esquema de propina envolvendo vereadores afastados por suspeita de corrupção na Câmara de Cuiabá
30/04/2025
(Foto: Reprodução) Vereadores são acusados de cobrar R$ 250 mil para aprovar um projeto de lei que favoreceu empresa responsável pelas obras da região do Contorno Leste, em Cuiabá. À direita, o vereador Chico 2000 e à esquerda, o Sargento Joelson (PSB)
Reprodução
A investigação sobre o esquema de corrupção dentro da Câmara de Cuiabá apontou que os vereadores Chico 2000 (PL) e Sargento Joelson (PSB) receberam, pelo menos, R$ 250 mil da empresa responsável pelas obras do Contorno Leste para aprovarem um projeto de interesse da empresa. Os dois foram afastados das funções públicas após serem alvos da Operação Perfídia, nessa terça-feira (29).
Conforme as investigações da Polícia Civil, a propina foi paga por um funcionário da empresa dentro dos próprios gabinetes dos vereadores.
Em nota, a Câmara informou que está colaborando com o levantamento das informações solicitadas pela polícia, incluindo imagens do prédio no período de agosto de 2023 a agosto de 2024, quando o pagamento ilícito teria ocorrido.
Como o suposto esquema funcionava? 🔍
Denúncias apontaram que os vereadores teriam solicitado propina para aprovar um projeto de lei em prol da empresa HB 20 Construções EIRELI, responsável pelas obras do Contorno Leste;
Um funcionário da HB 20 relatou à polícia que realizou o pagamento de R$ 250 mil aos parlamentares, sendo R$ 150 mil por transferências via Pix e R$ 100 mil entregues em espécie;
As negociações aconteciam nos gabinetes dos vereadores, dentro do órgão legislativo;
O projeto permitia à prefeitura parcelar dívidas tributárias, que, em tese, facilitaria a liberação de pagamentos pendentes à HB 20;
Após a aprovação do projeto de lei, a empresa recebeu um repasse de R$ 4,8 milhões da Prefeitura de Cuiabá, o que reforça, segundo a investigação, a existência de uma contrapartida ilícita;
Em nota, a HB 20 Construções EIRELI informou que a empresa não autorizou, pactuou ou participou de qualquer tratativa, direta ou indireta, relacionada a repasses ilícitos ou condutas que afrontem a ética e a legalidade (veja a nota na íntegra no final da reportagem).
Policiais cumprem mandados em gabinetes da Câmara de Cuiabá
Polícia Civil
O g1 entrou em contato com a defesa do vereador Chico 2000 (PL), mas não tinha recebido retorno até a última atualização desta reportagem.
Em nota, a assessoria do Sargento Joelson (PSB) disse que ele está à disposição da justiça e informou que a denúncia foi realizada pelo atual prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini, enquanto exercia o mandato de deputado federal.
Ao todo, foram cumpridas 27 ordens judiciais, sendo mandados de busca e apreensão, quebra de sigilo de dados telefônicos e eletrônicos, além de sequestro de bens, valores e imóveis, em desfavor de cinco investigados.
Além dos dois vereadores, um empresário e dois funcionários da empresa envolvida também estão sendo investigados.
🚧O atraso nas obras do Contorno Leste
Lançado em 2020, o projeto de construção do Contorno Leste prevê a com 17,3 km de asfalto para fazer a ligação da região do Distrito Industrial (Coxipó) com a rodovia Emanuel Pinheiro (MT-251). A previsão inicial de entrega da obra era 2023, mas o prazo não foi cumprido.
O Contorno Leste é uma região localizada entre os bairros Dr. Fábio e Osmar Cabral, em Cuiabá, e já foi palco de diversos conflitos de terra e também por ações policiais.
Nota na íntegra da empresa HB 20 Construções:
Diante das recentes informações veiculadas na imprensa sobre a “Operação Perfídia”, que envolve acusações graves contra agentes públicos e menciona o nome da empresa HB20 Construções EIRELI, cumpre esclarecer que:
1. A empresa não autorizou, pactuou ou participou de qualquer tratativa, direta ou indireta, relacionada a repasses ilícitos ou condutas que afrontem a ética e a legalidade.
2. Todas as relações institucionais da empresa sempre foram pautadas pela transparência, legalidade e regularidade contratual com o Poder Público.
3. O senhor João Jorge Souza Catalan Mesquita, citado como interlocutor em supostos pagamentos, nunca teve poderes legais ou autorização formal para representar a empresa em qualquer negociação externa, especialmente de natureza institucional, ele era apenas um prestador de serviços como qualquer outro.
3. A empresa, inclusive, já havia anteriormente adotado medidas internas contra o referido ex-prestador de serviços, diante de condutas incompatíveis com os princípios da empresa, incluindo registro de denúncias e suspeitas de irregularidades praticadas por ele no exercício de suas funções, inclusive existe uma notícia crime anterior a essas acusações levianas.
4. A tentativa de envolver o nome da empresa em atos isolados e ilegais, supostamente praticados por terceiros que agiram à margem de qualquer autorização, é vista com extrema gravidade pela atual diretoria, que colaborará com as autoridades sempre que necessário para o total esclarecimento dos fatos.
5. Por fim, repudiamos qualquer tentativa de manipulação ou distorção de fatos para criar narrativas que sirvam como cortina de fumaça para acobertar desvios de conduta individuais. A empresa não se submeterá a pressões, chantagens, Extorsão ou insinuações levianas.
6. É de total interesse da empresa esclarecer os fatos e chegar a verdade real de toda essa situação, inclusive para que o verdadeiro responsável seja punido seja quem for.
Reiteramos nosso compromisso com a verdade, com o respeito à legislação e à boa-fé nas relações institucionais e contratuais.
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